📌 FELIPA CRÍTICA: DEPOIS DO FIM
Na última segunda-feira, foi ao ar a estreia de "Depois do Fim", novela exibida na Star Novelas e assinada por Bruno Ferreira. A trama traz gêmeos em sua narrativa e traz debates interessantes.

O capítulo apresentado segue um modelo clássico, com um enredo envolvente, personagens bem definidos e temas pesados como abuso de poder, violência contra a mulher e desigualdade social.
Ele possui uma estrutura dramática forte, mas também apresenta pontos que poderiam ser melhor desenvolvidos para evitar estereótipos e trazer mais profundidade à história.
O capítulo começa de forma cinematográfica, com uma introdução visual do Rio de Janeiro ao som de Malandragem, criando uma atmosfera nostálgica e urbana que combina bem com a proposta da trama. A passagem de cenas é ágil, o que mantém o ritmo da história dinâmico e prende a atenção do espectador.
Entretanto, essa agilidade às vezes prejudica a profundidade de certas cenas. Por exemplo, a transição entre a chegada de Jandira, o abuso cometido por Alberto e a chantagem de Paulina ocorre de forma muito rápida. Como é um momento extremamente delicado e impactante, ele poderia ser mais trabalhado para dar mais peso emocional à narrativa. A cena poderia conter mais hesitação, conflitos internos ou até mesmo consequências imediatas para Jandira além do silêncio comprado.
Outro ponto que poderia ser melhor explorado é o salto temporal de 25 anos. Ele ocorre de maneira abrupta, sem mostrar as dificuldades que Jandira enfrentou para criar Laura sozinha ou como Alice foi educada no ambiente privilegiado de Paulina e Alberto. Esse contraste poderia ser mais bem construído para fortalecer o impacto do eventual reencontro entre as gêmeas.
Jandira é a personagem mais injustiçada da história. Desde sua chegada ao Rio, fica claro que ela é uma mulher humilde, trabalhadora e sem muitas opções. No entanto, ela rapidamente se torna vítima de abuso e exploração, sem ter muitas formas de reagir. Sua aceitação passiva do dinheiro de Paulina pode parecer realista dentro do contexto de vulnerabilidade social, mas também poderia ser trabalhada com mais camadas emocionais.
Paulina é uma personagem fria, calculista e extremamente pragmática. Seu desprezo por serviços domésticos e sua facilidade em comprar o silêncio de Jandira mostram seu caráter superficial e elitista. Ela não vê Alberto como um agressor, mas como um marido que cometeu um deslize que precisa ser “consertado”. Esse tipo de mentalidade é realista e comum entre personagens de vilãs em novelas, mas poderia ser aprofundado para evitar parecer um clichê exagerado.
Alberto é construído como o grande vilão do capítulo. Seu comportamento predatório em relação a Jandira é revoltante, e sua postura debochada e insensível ao longo do capítulo reforça sua falta de caráter. No entanto, ele poderia ser trabalhado com um pouco mais de nuance. Um personagem vilanesco muitas vezes se torna mais interessante quando tem motivações ou conflitos internos.
As gêmeas aparecem apenas no final do capítulo, mas já demonstram personalidades distintas. Alice é apresentada como a filha perfeita e amada por Paulina, enquanto Laura é uma jovem revoltada com sua realidade.
O capítulo trabalha temas pesados, como abuso de poder, violência contra a mulher, desigualdade social e compra de silêncio. Esses temas são relevantes e frequentemente abordados em novelas, mas precisam ser tratados com responsabilidade.
O abuso cometido por Alberto, por exemplo, é um momento forte da trama, mas poderia ter sido trabalhado com mais impacto emocional, mostrando não apenas o ato em si, mas as consequências psicológicas para Jandira. Além disso, a facilidade com que Paulina resolve tudo com dinheiro reforça um problema real da impunidade dos poderosos, mas poderia ser mostrado com mais dificuldade, talvez envolvendo uma ameaça maior ou um plano mais elaborado para silenciar Jandira.
A desigualdade social é outro ponto importante. Enquanto Alice vive uma vida confortável no Rio de Janeiro, Laura cresce em condições muito mais difíceis no Maranhão.
A questão da maternidade também está no centro da história. Paulina, que nunca quis filhos, acaba criando Alice como sua, enquanto Jandira luta para criar Laura sozinha.
O capítulo aborda temas pesados como abuso de poder, violência contra a mulher, desigualdade social e compra de silêncio. Embora esses assuntos sejam relevantes, precisam ser tratados com mais profundidade e responsabilidade. O abuso cometido por Alberto poderia ter um impacto emocional maior, explorando as consequências psicológicas para Jandira.
A resolução fácil do problema com dinheiro destaca a impunidade dos poderosos, mas poderia ser mais complexa. A desigualdade social entre Alice e Laura poderia ser melhor explorada, mostrando suas infâncias contrastantes. Além disso, o dilema da maternidade entre Paulina e Jandira merece um aprofundamento maior para realçar seus desafios emocionais e morais.
O capítulo tem um enredo forte e envolvente, com um drama clássico digno de uma novela de horário nobre. No entanto, algumas cenas poderiam ser desenvolvidas com mais sensibilidade e profundidade para evitar cair em estereótipos ou simplificações excessivas. Se o objetivo for criar uma história impactante e reflexiva, seria interessante explorar mais as consequências psicológicas dos eventos e dar mais agência a Jandira para além da submissão ao dinheiro.
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