📌 FELIPA CRÍTICA: MATCH FATAL

A série "Match Fatal", de Thiago Celestino, apresenta um thriller psicológico com forte componente social, envolvendo relacionamentos iniciados por aplicativos e seus potenciais riscos. 

Thiago Celestino apresenta, em Match Fatal, um episódio piloto que poderia ser descrito como um suspense psicológico – se a tensão não fosse diluída em diálogos expositivos, reações automatizadas e uma sequência de cenas que parecem ter sido escritas por um algoritmo sentimental e aprovado por um roteirista da CW. 

A proposta é boa: um romance digital que desanda para uma relação abusiva e perigosa. O problema é a execução, que parece ter sido feita sob efeito de cafeína vencida e com um toque dramático digno de novela das seis. E não das boas.

Logo de cara, somos apresentados a Felipe, uma espécie de vítima genérica de thriller nacional, com um martelo ensanguentado nas mãos (sim, já começamos no ponto alto do "mistério", que mistério algum é, já que o roteiro parece desesperado pra nos contar tudo de cara). Em vez de criar suspense, a cena de abertura entrega um festival de lágrimas, olhares distantes e falas tão forçadas que até a policial Rose parece ter decorado o script momentos antes de entrar em cena. "Estamos aqui para lhe ajudar..." – obrigada, Capitã Óbvia.

A construção dos diálogos é um capítulo à parte. A sensação é que ninguém fala como gente real. As falas soam como se fossem transcritas de um manual de “Como dramatizar uma situação traumática em 10 passos”. Quando Felipe diz que vai vender o apartamento e ir morar no litoral com a mãe após um encontro desastroso com um boy do aplicativo, dá vontade de mandar ele primeiro vender o roteirista. Tudo é resolvido com uma rapidez inacreditável. Trauma? Superado. Mudança de vida? Decidida em três falas. Terapeuta? Nem pensar, mamãe resolve.

E por falar em Bruno, o "match fatal", sua evolução de príncipe encantado para stalker de bairro acontece na velocidade de uma notificação do WhatsApp. No primeiro encontro, ele já lança frases como "diferença você vai encontrar comigo". Ou seja, ele já avisa que é esquisito – e Felipe, claro, acha "intenso". O padrão de relacionamento abusivo é tão previsível que o espectador não sente tensão, apenas espera o momento em que Bruno vai surgir debaixo da cama com um bolo de aniversário feito com os restos da intimidade do casal.

A direção indicada nas rubricas tenta compensar a fragilidade dos diálogos com uma câmera que "se aproxima lentamente", "entra no rosto" e "desfoca as bordas" como se estivéssemos num videoclipe do Evanescence. A trilha sonora, embora não escrita no roteiro, é quase audível de tanto drama. Tudo é dito, tudo é explicado, nada é deixado para a sutileza ou o desconforto natural da dúvida. É como se o roteiro tivesse medo de que o público não entenda – e por isso resolve repetir as mesmas emoções, expressões e decisões em loop.

Ainda assim, há méritos. A premissa é relevante. Relacionamentos abusivos, o uso de aplicativos e a vulnerabilidade emocional são temas importantes e atuais. O personagem de Felipe tem potencial, especialmente se trabalhado com mais camadas e menos chororô gratuito. O cliffhanger do final (Bruno no apartamento) é competente e dá vontade de ver o que vem depois – não porque o roteiro instigou de fato, mas porque queremos saber se finalmente algo realmente vai acontecer além de Felipe chorando e Bruno encarando.

No fim, Match Fatal é como um date ruim: começa promissor, engana com charme, e quando você vê, está trancado num roteiro confuso, previsível e querendo ir embora antes do segundo ato. Mas a gente fica. Porque, assim como Felipe, ainda tem uma pontinha de esperança de que no próximo encontro a história melhore. Ou que pelo menos alguém revise o texto.

Ela tem potencial narrativo sólido, trata de um tema social importante e inicia bem um arco de mistério e trauma. Com ajustes na naturalidade dos diálogos, construção gradual do antagonismo e revisão técnica do texto, o roteiro pode se tornar um ótimo ponto de partida para uma série envolvente e impactante.


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