📌 FELIPA CRÍTICA: ONDAS SOBRE ONDAS

Ondas sobre Ondas é uma novela escrita e criada por Werverth Marques e exibida no Cine Novelas, que estreou com a promessa de mergulhar o público em um drama cheio de mistério, paixões cruzadas e segredos à beira-mar. Com um visual caprichado e diálogos carregados de intensidade. 

O capítulo de estreia desta novela tenta pescar o público com redes dramáticas largas, mas o que sobra não é exatamente um banquete de camarões — é um amontoado de peixes de diferentes espécies, pesos e tamanhos, jogados no mesmo balde, se debatendo por espaço. A ambientação praiana, inicialmente promissora, com belas imagens e um lirismo visual digno de campanha institucional da Globo em dia de verão, logo se vê soterrada por uma avalanche de tramas paralelas, personagens introduzidos à força e uma pressa desnecessária em colocar todas as cartas (e clichês) na mesa.

É curioso como o roteiro aposta numa estética quase cinematográfica, com músicas milimetricamente encaixadas e frases lapidadas para a posteridade — mas que, em sua maioria, soam como se tivessem sido pescadas num mar de roteiros antigos, recicladas e reencenadas com a pretensão de profundidade. O resultado são diálogos que mais parecem lemas de almanaque filosófico de boteco: “A maré muda, mas o caráter... ou se molda na água, ou quebra no seco”. É bonito? Talvez. É orgânico? Nem de longe. Falta naturalidade, sobra autoimportância.

A novela quer ser tudo ao mesmo tempo: drama familiar, misticismo, denúncia social, romance proibido, crítica de classe, realismo mágico, e até uma pitada de Scooby-Doo com um cachorro falante. Sim, o tal do Choco — uma tentativa ousada de inserir leveza e humor, que acaba soando como uma esquete mal encaixada do Zorra Total no meio de Velho Chico. A ideia até poderia funcionar, se o tom da trama permitisse esse tipo de ousadia cômico-fantástica. Mas aqui, ela quebra o clima e derruba o pouco de tensão que vinha sendo construído com alguma elegância.

Há de se reconhecer, no entanto, que o roteiro apresenta um domínio de ritmo interessante. A novela tem ganchos, cortes rápidos e uma dinâmica de narrativa quase seriada que foge do marasmo de estreias arrastadas. O uso da trilha sonora, por exemplo, é um dos acertos mais evidentes: ela conduz emoções, reforça atmosferas e transforma cenas medianas em momentos de impacto. A cena final com Olga bordando um lenço com a letra “M” ao som de trovões é visualmente potente, ainda que carregada de simbolismo óbvio.

Os personagens, embora escorados em arquétipos batidos, têm potencial. Martin é o herói nobre, Ralf o irmão impulsivo e injustiçado, Mariani a mocinha dividida entre dever e desejo, Olga a vilã glacial saída direto da oficina de vilãs da teledramaturgia nacional. Nada é novo, mas tudo está bem posicionado. O problema é que o roteiro não confia no tempo da própria história e despeja tudo de uma vez: segredos antigos, armação policial, voz de fantasma, foto misteriosa, artista traído, rixa de famílias, cachorro falante, e... tráfico de tartarugas? É muita coisa para um só prato. O público mal conhece os personagens e já é obrigado a se importar com todos ao mesmo tempo.

A sensação que fica é que o autor, com medo de entediar o espectador, resolveu gritar o tempo todo. Só que quando todo mundo grita, ninguém se destaca. Falta silêncio. Falta pausa. Falta confiança no poder do simples. Ainda há tempo de reorganizar a rede, desfazer os nós e limpar o excesso de conchas decorativas. Porque no fundo do mar dessa história, existe uma boa novela tentando emergir — só precisa, antes de tudo, aprender a nadar.

Ele tem ambição, estilo visual marcante e bons personagens em potencial, mas tropeça no excesso de informações, diálogos teatrais, núcleos demais de uma vez e um tom que oscila entre o épico, o místico e o cômico sem conseguir equilibrar.

É o típico caso de uma obra que tenta ser tudo ao mesmo tempo e, com isso, perde impacto. Tem qualidade, mas precisa de poda. Com ajustes, pode virar uma novela instigante e memorável — mas por enquanto, está mais para um rascunho entusiasmado do que para um capítulo redondo.




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