📌 FELIPA CRÍTICA: À PROVA DE FOGO
Ari Rodrigues estreia sua nova trama pela GS Novelas com Prova de Fogo, uma novela que chega prometendo intensidade, mas que no primeiro capítulo entrega mais barulho do que refinamento. A emissora apostou alto em uma abertura explosiva, mas será que a pressa em chocar o público não comprometeu a construção da história?
O primeiro capítulo de Prova de Fogo chegou com a ambição típica de uma novela das 21h: intensidade, ganchos fortes e personagens já mergulhados em conflitos. A intenção é clara — não deixar o espectador desgrudar da tela. E, nesse ponto, a estreia entrega. Do casal em crise ao submundo do crime, passando pelas disputas de poder na elite, a trama acende vários pavios ao mesmo tempo. O problema é que, ao tentar queimar todos já na estreia, o roteiro se perde entre excesso e superficialidade.
É inegável que a narrativa consegue prender a atenção. A relação conturbada entre Marcelo e Ísis, com segredos e traições latentes, fornece a base de um melodrama clássico e eficiente. A cena final, em que Ísis descobre o dinheiro escondido e encara o marido, é o tipo de gancho que funciona — ainda que previsível. Além disso, a tentativa de equilibrar núcleos populares e ricos cria contraste social, ampliando o leque de possibilidades dramáticas. Há, portanto, um potencial interessante plantado nesse primeiro capítulo.
Porém, se há algo que salta aos olhos é a falta de fôlego. O capítulo parece temer o silêncio e a construção lenta, jogando no espectador uma sucessão de tramas sem pausa para respiro: já temos traição, tráfico de drogas, ameaça de morte, dinheiro escondido, brigas conjugais e discussões familiares. Em menos de uma hora, a novela parece querer apresentar toda a sua cartela de cartas dramáticas. O resultado? Um atropelo narrativo que compromete a densidade.
Novela é, por definição, maratona — e não sprint. A pressa em revelar o dinheiro escondido, por exemplo, mostra impaciência. Esse é o tipo de suspense que poderia ter sido construído ao longo de semanas, alimentando a dúvida sobre Marcelo e envolvendo o público em investigações sutis de Ísis. Ao entregar tudo de imediato, a trama corre o risco de ter esgotado parte de sua força antes mesmo de consolidar os personagens.
Outro ponto frágil está nos diálogos. As discussões de casal recaem em frases de efeito que soam mais artificiais do que naturais. Já os traficantes falam como caricaturas, repetindo ameaças que qualquer espectador já ouviu em dezenas de produções. A ausência de nuances faz com que os personagens, ao menos nesse primeiro capítulo, pareçam mais rascunhos de arquétipos do que pessoas de carne e osso.
Também chama atenção a pouca atenção dada à ambientação. As cenas mudam com rapidez, mas não constroem cenários vívidos: não se sente o cheiro do beco perigoso, nem o peso luxuoso da mansão. A narrativa aposta tudo em ação e conflito, mas esquece que uma novela vive também de atmosfera. Sem ela, tudo soa teatral demais — quase uma peça filmada, em vez de um universo vivo.
O saldo do primeiro capítulo de Prova de Fogo é contraditório: prende pelo choque, mas desaponta pela falta de sutileza. É barulhento, mas raso; ambicioso, mas apressado. O público pode até se deixar levar pelo ritmo frenético — afinal, ninguém pode negar que há entretenimento no caos —, mas para quem espera uma construção mais cuidadosa e diálogos mais afiados, a estreia deixa um gosto amargo.
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